terça, 29 maio 2012 00:00

Humildade ou a arte de bem receber!

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Já tínhamos lido em várias revistas e em vários relatos que o povo Marroquino é considerado o povo mais acolhedor e amistoso do mundo. Em todas as expedições que fizemos ao reino de Marrocos, sempre foi essa a ideia com que ficámos: os marroquinos sabem e querem bem receber.

No passado mês de abril fizemos uma incursão de duas semanas e percorremos 5300 km em território Marroquino, grande parte deles no interior e junto à fronteira com a Argélia. Zona essencialmente Berbere, dominada por pastores e rebanhos, mas também fortemente vigiada pelo exército que vigia a fronteira com a vizinha Argélia. Na foto acima podem ver um dos exemplos da forma como fomos recebidos em alguns postos militares: chá, bolinhos, pão e azeite, para além de nos oferecerem simpatia e calor humano!

Ao fim de um duro dia em que fizemos a ligação entre uma pista proveniente de Ich, passando por Figuig, e já em direção a sul, pedimos autorização junto de um posto de controlo militar para ali dormir. Foi-nos explicado que por ser uma zona militar tal não nos seria possível (estranho, dado já por várias vezes termos acampado junto e mesmo dentro de postos militares).

Fizemos mais uns 3 kms e decidimos então parar junto e um grupo de três tendas que pertenciam a três famílias de pastores e pedir-lhes para pernoitar junto das suas tendas.

Depois de alguma dificuldade de comunicação (não falam francês e nós não falamos árabe), lá conseguimos autorização para acampar e decidimos ficar a uns 30 ou 40 metros de uma das tendas, entre as tendas e a montanha, junto a um grupo de dromedários e de burros e no lado oposto da cerca onde guardavam as ovelhas e cabras.

Fomos alvos da sua natural curiosidade no que diz respeito ao nosso veículo e ao nosso ritual de montagem do acampamento. Anoitecia e iniciámos a confeção da nossa comida nessa noite: arroz, ervilhas e almôndegas! O Filipe Mateus apurava o tempero quando no negro da noite e sem qualquer luz fomos visitados por um dos pastores que, trazendo pela mão o seu pequeno filho de dois anos (descalço), segurava uma travessa com um prato com resto de coalho de queijo (Almissara) e duas colheres e ofereceu-nos um pouco do seu jantar.

Confesso que ficámos sensibilizados pelo gesto, não porque fosse inédito mas pela forma genuína como o nosso anfitrião decidiu percorrer numa noite completamente fechada, a distância que o separava de nós e de uma forma humana e rara nos presenteou com um pouco daquilo que lhe fazia com toda a certeza falta. Procurámos dentro da "Landy" algo que pudéssemos dar para retribuir o gesto: uma lanterna com pilha recarregável por força da rotação de uma manivela e roupa para a criança foi o gesto que conseguimos retribuir naquele momento, ainda não refeitos da surpresa.

Retribuímos também (já era essa a nossa ideia) com um pouco do nosso jantar e assim percorremos nós a distância que nos separava com um tacho e lá fomos entregar um pouco de arroz, ervilhas e almôndegas aos nossos novos amigos. Se gostaram, não ficámos a saber! Pensamos que sim porque, pela manhã, fomos presenteados de novos com um repasto ao pequeno almoço, a saber:

   - Um prato de algo parecido com requeijão de leite de cabra e ovelha e chá!

   - Um prato de uns deliciosos crepes marroquinos a acompanhar de manteiga confecionada ali mesmo no pequeno acampamento.

Confesso que tivemos uma manhã fabulosa, com muitos momentos de interação, onde pudemos mais uma vez constatar que o espírito de partilha, de humildade e de humanidade existe e que independentemente da nacionalidade, credo, cor da pele ou estatuto social as pessoas podem comunicar, partilhar, aprender e desfrutar daquilo que possuem e que a natureza lhes oferece!

De uma coisa temos a certeza, esta gente ficou para sempre no nosso coração e iremos procurar voltar a encontrá-los numa próxima visita.

Ficam algumas fotos dos nossos novos amigos!

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